23 abril, 2007

Cale a boca, Noronha!

Final da Taça Rio, interrompo meus estudos sobre Salvador Dalí pela segunda vez no dia para me deleitar com eventos esportivos. No ocorrido pela manhã amarguei uma vitória de Rafael Nadal (sobre o qual já escrevi aqui) em cima de Roger Federrer, meu favorito e queridinho da amiga Lu.

Fim de tarde de um domingo morno com cara de sábado e botafogo e cabofriense entram em campo. Durante o primeiro tempo, três lindos gols pelo lado do alvinegro e o tricolor da região dos lagos diminui com um gol. Já no segundo tempo, em um lance de impedimento duvidoso e difícil de marcar eis que Sérgio Noronha justifica a dificuldade de compreensão do lance com a seguinte frase “já experimentou explicar para uma mulher o que é um impedimento?”. Não sei nem explicar o quanto essa frase me irritou. Luiz Roberto tenta aliviar a situação lembrando que existem mulheres auxiliares, mas ainda sim ele completa “mas não estou falando de profissionais.”. Não tenho nem palavras, fiquei incrédula.

Não sou feminista, ainda acho lindo quando homem abre a porta do carro, puxa a cadeira para a mulher sentar, e quando de uma forma gentil se oferece para pagar jantar, cinema..., homens e mulheres não são iguais, nem deveriam, tudo é mais bonito pelas diferenças, encaixa pelas diferenças. Mesmo assim considero a fala do Noronha de muito mal gosto. Sou mulher e apaixonada por futebol há anos, e mesmo quando não era apaixonada sabia o que era um impedimento. A forma como ele falou me parece diminuir a mulher, de certa forma afirmar que ela não é capaz de entender um impedimento mesmo quando explicado. O que esse senhor de avançada idade deveria saber é que a maior parte das mulheres que ignora o que vem a ser um impedimento o faz por pura falta de interesse em o saber e não por falta de capacidade de compreensão.

Sei que ele é conhecido pela falta de bom senso, e morro de rir até hoje lembrando do primeiro jogo entre Flamengo e Real Potosi onde ele afirmou: “uma vez em La Paz, abracei um poste”, sem demais explicações deixando o mesmo Luiz Roberto sem graça esperando a continuidade da história que, como era de se esperar, não veio, subentende-se que foi por perder as forças pelo ar rarefeito, mas nos dá direito de imaginar muitas coisas. Outro momento ridículo que assisti dele foi quando pego dormindo durante a transmissão da copa do Japão e Coréia em 2002, ao final da copa já usava óculos escuros com bandeiras do Brasil evitando tamanho constrangimento.

Mesmo sabendo o quanto ele é experiente em falar bobagens do tipo e de sua falta de conhecimento no que diz respeito ao futebol (piorando tudo achando que muito entende) sou obrigada a demonstrar minha revolta. Sinto-me ofendida: sou mulher, até hoje não tive nenhum envolvimento profissional com área de esportes, mas gosto de ir a estádio, conheço escalação e em discussões inflamadas faço comentários contundentes sobre os problemas de determinados times, assisto todos os jogos dos fins de semana e vez ou outra durante a semana: copa da UEFA, campeonato espanhol, italiano e a eurocopa. Aí sou obrigada a ouvir aquele senhor agir como se eu não fosse capaz de compreender um impedimento? Talvez seja um exagero meu, ataque de mulherzinha, talvez, mas contrariando o que ele diz me sinto no direito de ter um frenesi por compras, gritar por barata, chorar com finais felizes, usar maquiagem todos os dias, bolsa se onçinha, salto alto, e ainda sim ser louca por futebol!

20 abril, 2007

Ai que saudade do Tarantino!




:::Hipoteticamente falando:::


hipotético

adj.,
relativo à hipótese;
duvidoso;
arbitrariamente suposto.


Se me permitisse poderia amar cada centímetro do seu corpo. Dedicaria a ti todas as letras que escrevesse, assim como antes dediquei a outro homem que antes amei. Em todos os dias lhe olharia por ângulos diferentes, encontrando sempre mais razões para lhe amar, enxergar um você diferente sempre sabendo que continuo tendo todas as razões pra te querer do meu lado. Seria feliz ao ouvir de tua boca que precisa de mim porque me quer, mas independe de mim como um ser humano de vida própria, com a liberdade que prezo e admiro tanto. Porque é tão incapaz de adentrar minha loucura, ser tão louco quanto eu? Porque se nega a errar, errarmos juntos, como criminosos, cúmplices?

Se me permitisse eu cuidaria de ti, e assim me permitiria cuidar. Se me permitisse, lhe seqüestraria para um banho de chuva numa madrugada de verão qualquer, gritaria como uma louca frente a sua casa até que você me calasse com um beijo. Queria que compreendesse que nunca lhe aprisionaria, e sim o deixaria voar, e exatamente por isso você voltaria sempre. Meu ciúme se resumiria a um olhar azedo, que dissolveria no ar com um beijo e um sorriso. E você riria do meu jeito estabanado e secaria minhas lágrimas infantis quando me sentasse em seu colo para cuidar dos meus joelhos ralados.

Se me permitisse me apaixonaria todos os dias por suas gargalhadas, o jeito de reclamar de tudo e pela forma como passa os fios de cabelo entre os dedos, seu tom de voz. Amaria sua bondade, seu idealismo, seu caráter, seus vícios e imperfeições. Suspiraria por seu jeito de sorrir ao ver, e quando sua mão tocasse minha pele. Esqueceria os males do mundo em teus braços, protegida, segura, capaz de enfrentar a tudo e a todos. Ignoraria meu ódio a burocracia e me faria tua mulher, recasaríamos bêbados em Vegas, nossa valsa seria “You Never Can Tell” e jogaríamos strip poker no quarto na lua de mel. Criaríamos filhos com trejeitos de personagens de tirinhas de jornal em alguma cidade tranqüila e fria longe daqui, te amaria todos os dias de minha vida... Se você me permitisse.




- I love you, pumpkin...
- I love you, honeybunny...
Ai que saudade do Tarantino! Ai que saudade...

02 abril, 2007

E viva Sofia!

Depois de ler todas as críticas que encontrei e ter minha curiosidade despertada assisti o “Marie Antoinette” de Sofia Coppola com algum preconceito. As vaias em Cannes e críticas mordazes me fizeram colocar em dúvida o filme, mas mais uma vez me apaixono por o olhar de Sofia que me tornou fã de seu trabalho com “Encontros e Desencontros” e “Virgens Suicidas”. Incontestavelmente dois dos melhores filmes dos últimos 15 anos.

Não entendo as críticas, acho que só podem ser fundamentadas em um não entendimento da proposta da diretora. Coppola não fez nada diferente dos filmes anteriores: Retratou a solidão feminina. Talvez a diferença resida no fato de que anteriormente vimos alma e poesia, tanto nas meninas reprimidas e isoladas do mundo nos anos setenta, quanto na jovem recém casada que questiona o que seria seu lugar enquanto conhece Tóquio, acompanhada de um fracassado ator americano que se torna seu acompanhante ao acaso. Maria Antonieta por sua vez, diz a história, não questionou nada, e nem poderia. A jovem austríaca obrigada a desposar o príncipe herdeiro do trono francês aos 14 anos viu-se deslumbrada pela corte francesa, alcoviteira e despudorada. Por anos ela manteve certa ingenuidade, ainda menina e tentando despertar o desejo do marido, pretendendo dar a França um herdeiro. E ela, como toda mulher sexualmente infeliz gostaria de fazer, desconta a infelicidade sexual no casamento e a humilhação perante a corte em gastos exorbitantes, futilidades, jogatina, farras descomunais e amantes. Pois é. E cadê a poesia? Não tem. Mas não tira o mérito do filme que apresentou quem era Maria Antonieta, mostrando suas duas faces, a esposa e mãe dedicada e a rainha de gastos incontroláveis e sem pudor.

Mesmo gostando do filme aponto dois erros: A falta de demonstração da luxúria que dominava a corte na época, fica subentendido, principalmente quando seu casamento ainda não havia sido consumado e ela ficava infeliz ao ouvir diálogos picantes e propostas sexualmente atrativas pelos corredores do palácio, mas faltou a exposição. A passagem de tempo também é problemática no início, quem ignora a idade com que Antonieta se casou pensa que pouco tempo de passou até sua festa de 18 anos, não houve alteração em nada, a não ser na personalidade da rainha, mas na verdade se passaram quatro anos.

A Europa se sentiu ofendida pela interpretação pessoal de Sofia de uma das rainhas mais queridas, mas eles mesmos nos ensinaram que ela ignorava seus famintos enquanto comprava sapatos, que bebia e jogava sem limite algum, que tinha vários amantes. Isso não tirou o valor dela o papel de esposa dedicada, pois permaneceu ao lado do marido mesmo quando a revolução chegava às portas de seu palácio, mesmo tendo podido fugir junto com o restante da corte. Então porque essa hipocrisia agora? Por ser uma interpretação de uma diretora americana, pelo menos aos meus olhos.

Se a revolução francesa pareceu ignorada é porque a rainha parecia ignorar a revolução, não creio que houve uma falta de visão política por parte da diretora e apenas ela deu maior ênfase a aquilo que era sua proposta: Maria Antonieta. Ainda sim julgo que ficou claro que o soberano francês era imaturo para governar e que se preocupava mais com caçadas do que com o governo em si, e que a rainha ignorava o que acontecia além do palácio, sendo chamada a realidade vez ou outra por seu conselheiro.

Audacioso como a Delfina francesa o filme tem uma trilha sonora espetacular, como já é de praxe nos filmes de Sofia Coppola, mas dessa vez muito distante de sua época: The Strokes, The Cure, New Order no mesmo CD que Vivaldi (ouvi e recomendo). Ainda mais espetacular é o figurino e a locação (Versalhes himself). Mas isso todos elogiam então eu nem faço tanto alarde. Aplaudo o filme, talvez sozinha... como a Maria Antonieta, mas sem o menor rubor em aplaudir sozinha. Palmas pra Sofia, papai Coppola deve estar orgulhoso.

31 março, 2007

Now the drugs don't work...

A idade te presenteia com a maturidade, mas junto com ela há uma redução drástica do que seria a paciência, você parece temer o tempo, viver mais por segundo, fazer mais por minuto, viver vidas em cada vida, atropelando todo e qualquer percalço que possa aparecer por temer que o tempo corra ainda mais depressa enquanto você se preocupa em tornar as coisas mais simples.

E aí você parece querer segurar o ponteiro do relógio com os dentes enquanto as mãos ocupadas tapam os ouvidos para impedir que o tic tac enlouqueça até o ponto em que você precise gritar, o mais forte possível, arrebentar a garganta, provocar rouquidão e assim parar o tempo. Não parar o tempo para sempre, não para evitar que as flores nasçam, as folhas caiam, que o sol se ponha e que a lua mude, mas um piscar de olhos, o tempo suficiente para avaliar a vida, o passado/presente/futuro. Assim, o ato de esperar ganha um amargor inexplicável, começa a se tornar incompreensível quem espera à hora passar olhando pela janela fazendo simplesmente nada, aguardando a oportunidade que não chega, se apegando a um algo que não volta.

Mas ao mesmo tempo você descobre que há a vontade de ignorar todo e qualquer movimento do mundo quando absorta por suas dores. Sejam quais forem elas, das físicas as dores da alma... Angústias, confusões, dúvidas, tudo é capaz de lhe questionar o tempo e provocar a pausa nas ações enquanto a cabeça martela a uma velocidade ainda maior do que a vida costumava correr. Então resolvo que é tempo de fechar as portas, abrir as cortinas, deixar a escuridão da noite entrar, esconder nela as lágrimas de quem teme o tempo e tatear em busca da claridade, da cura, do alívio. Ignorando o tempo e sabendo que ele pode esperar. Suspiro, questiono, observo. Ao ritmo da trilha sonora eu tento contar as notas, a quantidade de batidas no violão, tan, tan, tan, ta... “And I hope you're thinking of me… As you lay down on your side… Now the drugs don't work… They just make you worse… But I know I'll see your face again”... tan, tan, tan, ta... Assim repetidamente, até os olhos pesarem e o corpo cansado repousar na cama para dois, ignorando o tempo nos sonhos, sabendo que entre acelerações e pausas, a velocidade média torna a vida ideal.