22 julho, 2008

Fotografia

Não tenho a pretensão de ser uma artista que congela um momento escrevendo com a luz. Na realidade só salvo das mazelas do tempo tudo de belo que encontro pelo meu sinuoso caminho. A eternidade desse registro não é uma certeza absoluta, fotografias não duram para sempre, mas se torna válida pelo simples prazer de saber que prorroguei a existência de algo suntuoso. E a beleza que busco levar a imortalidade não reside apenas na perfeição óbvia de um sorriso de criança, uma bela paisagem, ou uma construção monumental. Longe do que é óbvio, do encanto evidente, tento provar que há beleza em coisas simples: em linhas tortas, ângulos, padrões que se repetem, reflexos que se estendem, no encontro das cores e no contraste de tons.

O apuro do olhar de um fotógrafo está nisso, em tornar belo e admirável algo que passaria incólume a olhos destreinados. Há cinco anos me iniciei nesse hábito e cada apertar de botão eu tenho mais certeza que mais que uma profissão, fotografia é meu porto seguro. A beleza que reproduz é um contraste entre a violência que me cerca. Através do olhar pela lente me protejo do que me fere e angustia, a cada pedaço de tempo encontro a paz e me recomponho para continuar meu credo na humanidade. Mais do que apaixonada por fotografia, eu sou uma dependente, daquelas que procura em tudo uma razão para perpetuar o belo. Como recompensa, ganho a certeza que preservei algo que pode ser admirado no meio do mundo onde tanto é angustiante e reprovável.

14 julho, 2008

Fazendo a linha Kátia

É público e notório que nos últimos tempos todo acontecimento que marca nossa sociedade tem uma repercussão midiática antes de haver qualquer manifestação dos governantes. Eles, do alto de seus pedestais agem como se nunca soubessem de nada, foram informados junto com a população, o popular corno: último a saber.

Isso virou moda depois que o Presidente Lula alegou seguidas vezes desconhecer grandiosos esquemas de corrupção que aconteciam bem abaixo de seu nariz, ligados diretamente a sua campanha e a seu governo. Hoje a linha Kátia ganhou ainda mais espaço com o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho. Desde que assumiu só faz viajar. Chegou ao governo visando algo maior, sem dúvida. Politicamente falando, lógico. As atitudes do governador não demonstram a menor preocupação com a população fluminense, tudo que ele faz parece apenas campanha.

Por enquanto ele e Lula dão as mãos e posam sorrindo para fotos, mas sem dúvida em um futuro próximo se tornaram inimigos mortais. Política é assim: hipocrisia e falsidade. A população fica refém desse tipo de associação próxima da criminalidade e ouve desculpas torpes e atuações dignas do Oscar que convencem os menos instruídos.

Assim eles posam quando três jovens são entregues a traficantes rivais e assassinados. Surpresos, tão indignados quanto nós, a população. Principalmente ao sabermos que eles estavam lá para policiar obras de um candidato a prefeitura do Rio de Janeiro, pior ainda: com autorização do governo federal. Mas ninguém sabia de nada. O absurdo já começa por conta das obras eleitoreiras sendo feitas com apoio do governo federal, mas ninguém sabia. Eles nunca sabem. Só sabiam os três militares que foram punidos. São realmente os únicos culpados?

A justiça no Brasil só tem o peso e o rigor que vemos no papel com aqueles que não possuem moeda de troca. Seja dinheiro ou a simples atitude de calar-se perante alguma contravenção que testemunhara. Dessa forma a lei funciona para miseráveis, pobres ou para aqueles que não se corrompem. Traficantes, políticos corruptos, empresário inescrupulosos, esses se beneficiam de brechas e conquistam liberdade. Dizer que há igualdade perante a lei nesse país é, no mínimo, uma piada.

A postura dos governantes é claramente de Maria vai com as outras. Esperam a reação da sociedade e em cima dela tomam atitudes para manter a popularidade e índices de aprovação altos. Tornam-se mestres em fazer discursos, entrevistas e pronunciamentos, fugir de responsabilidades que são suas. Dão trabalho aos jornalistas, mas não cumprem a sua função de governantes. Triste. Continuamos desgovernados e em ano eleitoral tenho a ainda mais triste certeza de que nada vai mudar.

10 julho, 2008

Being blond...

Frio pacaráleo no Rio de Janeiro. Eu com meu casaco de plush, minha pashimina preta e all star que estrategicamente combina com a tiara do cabelo me sento em um café com um par de livros marcados com orelhas coloridas e um bloco onde costumo rabiscar algumas idéias que parecem boas, só parecem. Levanto o dedo e depois de cinco minutos consigo pedir um capuccino grande, nos velhos tempos pediria um cinzeiro, mas a lei municipal carioca segrega os fumantes em guetos e no frio. Prefeito filhodaputa!

Continuo minha leitura ferozmente, mesmo me sentindo uma idiota por comprar tudo que aquele livro claramente esquerdista trata como verdadeiro. Por mais que eu não acredite, sei que é muito simples acreditar. Não parece fazer sentido, mas se você fosse jornalista e lesse esse livro iria me entender. Não recomendo, não mesmo. Rabisco umas porcarias no papel e depois do calor da bebida resolvo tirar o casaco. No momento em que o faço olho em volta e percebo que um par de jovens engravatados cisma em não tirar os olhos de mim. Talvez eu tenha me tornado uma daquelas pseudo-intelectuais metidas a elegantes, mas que se vestem de forma esquisita. Que tipo de maluca se veste como um figurante da malhação e senta sozinha em um café para ler livros políticos? Eu! Eu e pseudo-intelectuais que se vestem de forma esquisita!

Lembrei que tinha fones na bolsa, encontrei umas músicas da Amy Winehouse no celular e achei melhor ignorar o mundo naquele momento, talvez ignorando o quanto eu pareça estranha para aquele par de homens na casa dos 20 e muitos. Foda-se, não pretendo ser admirada por advogados mesmo. Nem espere que a recíproca seja verdadeira. Eles eram tão óbvios com seus ternos banais e gravatas de tons másculos. Bláh! E os expressos que beberam foram engolidos como se o mundo precisasse dos dois para se movimentar. Grandesmerda!

Um trecho destacado do livro desencadeou uma linha de pensamento em meu enferrujado cérebro. E lá fui eu ligando guerras e atitudes políticas, trançando com filmes, atentados e ela, a filha do capeta: a mídia, sempre ela. Amy com todo seu haxixe embalava isso. Eu quis uma taça de vinho, eu quis um cigarro mentolado, eu quis o homem mais inteligente que eu conheço do meu lado para expor todo meu rancor e revolta contra minhas óbvias conclusões. Eu quis fazer sexo para em seguida, ainda na cama, debater todo o circo político armado para as próximas eleições presidenciais. Eu queria discutir o futuro políticos do mundo e as eleições americanas, judeus e palestinos, petistas e tucanos, guerrilheiros e ditadura, polícia e traficante, intervenções urbanas...

Foi ai que me senti um pé no saco, um tédio. Chata, óbvia e forçada como todas as pessoas que pretendem expor inteligência em excesso. A Amy me socaria, eu me mandaria “tomar no cu”, um par de amigas debocharia que isso só pode ser causado por sexo mal feito. Me visualizei trajando listras horizontais, óculos de armação grossa e aplaudindo qualquer filme de língua não inglesa e baixo orçamento. MEDO.

Deveria aproveitar a atual fase burguesinha malhadora, gostosa-wannabe, com minhas loiras madeixas cortadas chanel e aprender a parar de ler. A perspectiva futura envolve uma eterna sala de aula e me aterroriza. Em homenagem hoje eu vou beber Ice, fumar Gudan, ouvir Beyoncé e ler gibi, ou até pior: Paulo Coelho.

Beijomeliga