10 julho, 2008

Being blond...

Frio pacaráleo no Rio de Janeiro. Eu com meu casaco de plush, minha pashimina preta e all star que estrategicamente combina com a tiara do cabelo me sento em um café com um par de livros marcados com orelhas coloridas e um bloco onde costumo rabiscar algumas idéias que parecem boas, só parecem. Levanto o dedo e depois de cinco minutos consigo pedir um capuccino grande, nos velhos tempos pediria um cinzeiro, mas a lei municipal carioca segrega os fumantes em guetos e no frio. Prefeito filhodaputa!

Continuo minha leitura ferozmente, mesmo me sentindo uma idiota por comprar tudo que aquele livro claramente esquerdista trata como verdadeiro. Por mais que eu não acredite, sei que é muito simples acreditar. Não parece fazer sentido, mas se você fosse jornalista e lesse esse livro iria me entender. Não recomendo, não mesmo. Rabisco umas porcarias no papel e depois do calor da bebida resolvo tirar o casaco. No momento em que o faço olho em volta e percebo que um par de jovens engravatados cisma em não tirar os olhos de mim. Talvez eu tenha me tornado uma daquelas pseudo-intelectuais metidas a elegantes, mas que se vestem de forma esquisita. Que tipo de maluca se veste como um figurante da malhação e senta sozinha em um café para ler livros políticos? Eu! Eu e pseudo-intelectuais que se vestem de forma esquisita!

Lembrei que tinha fones na bolsa, encontrei umas músicas da Amy Winehouse no celular e achei melhor ignorar o mundo naquele momento, talvez ignorando o quanto eu pareça estranha para aquele par de homens na casa dos 20 e muitos. Foda-se, não pretendo ser admirada por advogados mesmo. Nem espere que a recíproca seja verdadeira. Eles eram tão óbvios com seus ternos banais e gravatas de tons másculos. Bláh! E os expressos que beberam foram engolidos como se o mundo precisasse dos dois para se movimentar. Grandesmerda!

Um trecho destacado do livro desencadeou uma linha de pensamento em meu enferrujado cérebro. E lá fui eu ligando guerras e atitudes políticas, trançando com filmes, atentados e ela, a filha do capeta: a mídia, sempre ela. Amy com todo seu haxixe embalava isso. Eu quis uma taça de vinho, eu quis um cigarro mentolado, eu quis o homem mais inteligente que eu conheço do meu lado para expor todo meu rancor e revolta contra minhas óbvias conclusões. Eu quis fazer sexo para em seguida, ainda na cama, debater todo o circo político armado para as próximas eleições presidenciais. Eu queria discutir o futuro políticos do mundo e as eleições americanas, judeus e palestinos, petistas e tucanos, guerrilheiros e ditadura, polícia e traficante, intervenções urbanas...

Foi ai que me senti um pé no saco, um tédio. Chata, óbvia e forçada como todas as pessoas que pretendem expor inteligência em excesso. A Amy me socaria, eu me mandaria “tomar no cu”, um par de amigas debocharia que isso só pode ser causado por sexo mal feito. Me visualizei trajando listras horizontais, óculos de armação grossa e aplaudindo qualquer filme de língua não inglesa e baixo orçamento. MEDO.

Deveria aproveitar a atual fase burguesinha malhadora, gostosa-wannabe, com minhas loiras madeixas cortadas chanel e aprender a parar de ler. A perspectiva futura envolve uma eterna sala de aula e me aterroriza. Em homenagem hoje eu vou beber Ice, fumar Gudan, ouvir Beyoncé e ler gibi, ou até pior: Paulo Coelho.

Beijomeliga

3 comentários:

Marmota Carioca disse...

Essa juventude pós ditadura.
Na minha época...

february star disse...

A Amy me socaria, eu me mandaria “tomar no cu”, um par de amigas debocharia que isso só pode ser causado por sexo mal feito.


Eu faria tudo isso.

E Paulo Coelho, marmota? Nem no seu dia mais suicidal tendency.

Beijomeliga

Carol Guido disse...

Para tal homenagem ser digna não poderia faltar um nickname à altura. Tipo gizINHA. Que tal?

Há!