22 julho, 2008

Fotografia

Não tenho a pretensão de ser uma artista que congela um momento escrevendo com a luz. Na realidade só salvo das mazelas do tempo tudo de belo que encontro pelo meu sinuoso caminho. A eternidade desse registro não é uma certeza absoluta, fotografias não duram para sempre, mas se torna válida pelo simples prazer de saber que prorroguei a existência de algo suntuoso. E a beleza que busco levar a imortalidade não reside apenas na perfeição óbvia de um sorriso de criança, uma bela paisagem, ou uma construção monumental. Longe do que é óbvio, do encanto evidente, tento provar que há beleza em coisas simples: em linhas tortas, ângulos, padrões que se repetem, reflexos que se estendem, no encontro das cores e no contraste de tons.

O apuro do olhar de um fotógrafo está nisso, em tornar belo e admirável algo que passaria incólume a olhos destreinados. Há cinco anos me iniciei nesse hábito e cada apertar de botão eu tenho mais certeza que mais que uma profissão, fotografia é meu porto seguro. A beleza que reproduz é um contraste entre a violência que me cerca. Através do olhar pela lente me protejo do que me fere e angustia, a cada pedaço de tempo encontro a paz e me recomponho para continuar meu credo na humanidade. Mais do que apaixonada por fotografia, eu sou uma dependente, daquelas que procura em tudo uma razão para perpetuar o belo. Como recompensa, ganho a certeza que preservei algo que pode ser admirado no meio do mundo onde tanto é angustiante e reprovável.

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