02 abril, 2007

E viva Sofia!

Depois de ler todas as críticas que encontrei e ter minha curiosidade despertada assisti o “Marie Antoinette” de Sofia Coppola com algum preconceito. As vaias em Cannes e críticas mordazes me fizeram colocar em dúvida o filme, mas mais uma vez me apaixono por o olhar de Sofia que me tornou fã de seu trabalho com “Encontros e Desencontros” e “Virgens Suicidas”. Incontestavelmente dois dos melhores filmes dos últimos 15 anos.

Não entendo as críticas, acho que só podem ser fundamentadas em um não entendimento da proposta da diretora. Coppola não fez nada diferente dos filmes anteriores: Retratou a solidão feminina. Talvez a diferença resida no fato de que anteriormente vimos alma e poesia, tanto nas meninas reprimidas e isoladas do mundo nos anos setenta, quanto na jovem recém casada que questiona o que seria seu lugar enquanto conhece Tóquio, acompanhada de um fracassado ator americano que se torna seu acompanhante ao acaso. Maria Antonieta por sua vez, diz a história, não questionou nada, e nem poderia. A jovem austríaca obrigada a desposar o príncipe herdeiro do trono francês aos 14 anos viu-se deslumbrada pela corte francesa, alcoviteira e despudorada. Por anos ela manteve certa ingenuidade, ainda menina e tentando despertar o desejo do marido, pretendendo dar a França um herdeiro. E ela, como toda mulher sexualmente infeliz gostaria de fazer, desconta a infelicidade sexual no casamento e a humilhação perante a corte em gastos exorbitantes, futilidades, jogatina, farras descomunais e amantes. Pois é. E cadê a poesia? Não tem. Mas não tira o mérito do filme que apresentou quem era Maria Antonieta, mostrando suas duas faces, a esposa e mãe dedicada e a rainha de gastos incontroláveis e sem pudor.

Mesmo gostando do filme aponto dois erros: A falta de demonstração da luxúria que dominava a corte na época, fica subentendido, principalmente quando seu casamento ainda não havia sido consumado e ela ficava infeliz ao ouvir diálogos picantes e propostas sexualmente atrativas pelos corredores do palácio, mas faltou a exposição. A passagem de tempo também é problemática no início, quem ignora a idade com que Antonieta se casou pensa que pouco tempo de passou até sua festa de 18 anos, não houve alteração em nada, a não ser na personalidade da rainha, mas na verdade se passaram quatro anos.

A Europa se sentiu ofendida pela interpretação pessoal de Sofia de uma das rainhas mais queridas, mas eles mesmos nos ensinaram que ela ignorava seus famintos enquanto comprava sapatos, que bebia e jogava sem limite algum, que tinha vários amantes. Isso não tirou o valor dela o papel de esposa dedicada, pois permaneceu ao lado do marido mesmo quando a revolução chegava às portas de seu palácio, mesmo tendo podido fugir junto com o restante da corte. Então porque essa hipocrisia agora? Por ser uma interpretação de uma diretora americana, pelo menos aos meus olhos.

Se a revolução francesa pareceu ignorada é porque a rainha parecia ignorar a revolução, não creio que houve uma falta de visão política por parte da diretora e apenas ela deu maior ênfase a aquilo que era sua proposta: Maria Antonieta. Ainda sim julgo que ficou claro que o soberano francês era imaturo para governar e que se preocupava mais com caçadas do que com o governo em si, e que a rainha ignorava o que acontecia além do palácio, sendo chamada a realidade vez ou outra por seu conselheiro.

Audacioso como a Delfina francesa o filme tem uma trilha sonora espetacular, como já é de praxe nos filmes de Sofia Coppola, mas dessa vez muito distante de sua época: The Strokes, The Cure, New Order no mesmo CD que Vivaldi (ouvi e recomendo). Ainda mais espetacular é o figurino e a locação (Versalhes himself). Mas isso todos elogiam então eu nem faço tanto alarde. Aplaudo o filme, talvez sozinha... como a Maria Antonieta, mas sem o menor rubor em aplaudir sozinha. Palmas pra Sofia, papai Coppola deve estar orgulhoso.

2 comentários:

Tati disse...

É, não parece que não vimos o mesmo filme...
Mas tudo bem, amiga... Nós escrevemos tão bem que conseguimos passar o nosso amor e ódio muito bem! hahahahahahahaha...
Beijo!

lu disse...

preciso ver pra saber de que lado fico!

beijo.
=*